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Desenvolvimento do mercado secundário no Brasil e as operações de logística reversa

Atualizado: 16 de jun. de 2020

Além das atividades de coleta e transporte, faz parte do contexto das operações de logística reversa a destinação dos produtos.

Existem várias alternativas para destinação, dentre as quais: Outlets, leilões, intermediários, lojas de R$1.99, multimarcas, mercados de pulgas, penhor, remanufaturas/reformas e reciclagem.

O presente artigo tem com objetivo trazer uma visão geral do mercado secundário no Brasil, comparando-o com os EUA.



LOGÍSTICA REVERSA


Segundo Dale Rogers e Tibben-Lembke, a logística reversa pode ser organizada em 2 tipos: logística reversa de produtos e de embalagens.

Cada indústria tem um perfil e um volume diferente de retornos a ser tratado dentro do âmbito da logística reversa. A Tabela 1 ilustra diferenças no percentual de retorno de produtos por indústria levantadas com base em entrevistas com as empresas nos EUA (Dale Rogers e Tibben-Lembke).



Tabela 1 – Percentual de retorno por indústria












Cada indústria tem diferentes origens para operação logística reversa, podendo ser estas:

  • Sobra de produto no estoque próprio ou de parceiros (itens não vendidos)

  • Retornos de marketing

  • Retorno referente ao fim do ciclo de vida do produto/Fim da “temporada”/”estação”

  • Retorno devido a danos de transporte

  • Retorno do consumidor/cliente devido a defeito

  • Retorno do consumidor/cliente devido às políticas de garantia de retorno

  • Recall

  • Questões ambientais de eliminação e destinação

O tratamento escolhido para cada qual dessas diferentes origens de retorno é definido com base em diferentes motivadores. Ou seja, cada empresa, a depender da percepção de impacto dos seus retornos para o negócio podem tomar diferentes decisões quanto a sua operação reversa.

A Tabela 2 ilustra os principais motivadores para logística reversa citados pelas empresas entrevistadas em pesquisa realizada nos EUA (Dale Rogers e Tibben-Lembke).



Tabela 2 – Motivadores para Logística Reversa







Para uma empresa de vestuário de baixo preço que tenha um volume significativo de produtos não vendidos nas lojas, pode ser uma boa alternativa colocar preços promocionais nas peças que sobraram para tentar vende-las, mesmo que a um menor preço, aproveitando que estas peças estão nas lojas, evitando assim logística reversa.

No entanto, para uma outra empresa do ramo de vestuário cujo produto seja de alto valor agregado, colocar preços promocionais muito baixos para liquidar o item não vendido na própria loja pode não ser uma boa alternativa de marketing. Muitas empresas nessas condições preferem direcionar suas sobras para canais de venda secundários, como outlets ou multimarcas, de forma a não canibalizar a venda dos demais produtos da loja ou não gerar a percepção no cliente de que o valor dos produtos da loja são muito inferiores ao preço praticado.

Nesse contexto, vale ainda indicar que em linhas gerais, os volumes de retorno são proporcionais aos volumes de venda ou, melhor, aos volumes pretendidos de venda. Nesse contexto, quanto maiores esses volumes, mas relevante é a organização das operações de logística reversa.

Observando o desenvolvimento do tema de logística reversa nos EUA, verifica-se que sua organização começou a se dar de forma mais forte há cerca de 1980. Nessa época, começaram a se formar grande operadores logísticos focados nesse tipo de operação, como a GENCO, por exemplo, assim como, começaram a surgir os outlets como forte canal secundário.

Em uma comparação simplificada, verificamos através da Figura 1 que os volumes comercializados nos EUA na década de 80 são similares aos volumes praticados no Brasil atualmente. Isso nos indica que estamos entrando em um momento econômico onde as discussões e direcionamentos das operações reversas das empresas atuantes no Brasil estão chegando em momentos relevantes.

Dentre essas discussões encontra-se a busca por alternativas para coleta, transporte e direcionamento dos volumes de retorno.



Figura 1 – Comparação do PIB Brasil, EUA e União Européia

O direcionamento das sobras/retornos pode ser feito para o chamado “Mercado Secundário”.



MERCADO SECUNDÁRIO: Brasil vs EUA


Mercado secundário é composto por canais secundários, ou seja, por um conjunto de canais de venda alternativos para o direcionamento de retornos/sobras de forma a minimizar a canibalização das vendas nos canais primários da empresa e a viabilizar a máxima recuperação de valor dos itens retornados.



Figura 2 – Canais do mercado secundário















Com base em pesquisa realizada nos EUA pelo professor Dale Rogers da Universidade de Rutgers em New Jersey e no Brasil em pesquisa realizada pelo ILOS, verificamos que a representatividade do mercado secundário nos EUA é de cerca de 2,6% do PIB enquanto que no Brasil é ainda de cerca de 0,3% do PIB.

A Figura 3 ilustra a representatividade dos canais secundários nos EUA e Brasil, excluindo os canais de remanufatura/reforma, reciclagem e disposição final.


Figura 3 – Representatividade dos Canais Secundários nos EUA e Brasil



INTERMEDIÁRIOS

Verificamos que a participação dos “intermediários” no mercado secundário brasileiro ainda é muito pequena.Os intermediários são as empresas que compram da indústria e/ou varejo em grandes quantidades para depois revender os produtos para canais específicos. Ou seja, em grande parte das vezes é o intermediário que faz o processo de triagem e direcionamento dos produtos para os demais canais secundários. Isso simplifica a operação para a indústria e varejo que vendem todo o volume para uma única empresa, limpando rapidamente seu canal primário e liberando espaço em seus centros de distribuição.

No entanto, nem todas as empresas direcionam seus volumes para intermediários. Algumas empresas organizam internamente seu processo de triagem e direcionamento de produtos. Em diversos casos, essa atividade é realizada por um operador logístico especializado aumentando o valor recuperado pelo direcionamento direto dos produtos.


LEILÃO

Um canal muito relevante no mercado secundário é o leilão. São, tradicionalmente, sites através do qual a empresa coloca o item a venda por um valor mínimo e então recebe lances pelo produto. Atualmente, em muitos desses sites de leilão, como o Mercado Livre por exemplo, as negociações baseadas em preço fixo estão crescendo mais rápido que as baseadas em preço variável (lances), já descaracterizando o título de “leilão”.

Os leilões tem sido muito utilizados, não somente para logística reversa de ativos já depreciados, mas em muitos casos de produtos com pequenos defeitos. É comum encontrar a venda conjuntos de aparelhos de microondas ou máquinas de lavar que retornaram ao varejista ou indústria devido a pequenos defeitos como riscos em sua lataria.

No Brasil o maior site de “leilão” é o Mercado Livre, cujo faturamento chega a US$1,9 bilhão. Além do C2C, o Mercado Livre diversas empresas utilizam o mercado livre como canal secundário e as vezes até como canal primário.

Sites como a Amazon também são considerados canais secundários, pois viabilizam a venda de produtos usados ou de coleções antigas, apesar de hoje já ser um espaço utilizado fortemente para hospedagem de pequenas lojas e lojas de departamentos.


MULTIMARCAS

No que diz respeito ao uso de lojas multimarcas n o mercado secundário verificamos que os EUA tem, além de pequenas lojas, grandes redes como, por exemplo, a Ross Dress for Less, Marshalls e a Century 21. Essas redes trabalham com a venda de vestuário e acessórios para casa majoritariamente de coleções antigas (coleções de 2 ou mais anos atrás) para grandes marcas do mundo (Dior, Jean Paul Gaultier, Armani, etc).

Para se ter ideia do tamanho desses negócios nos EUA, vamos citar o exemplo da Ross Dress for Less que faturou em 2013 US$10,2 bilhões e tem 1.146 lojas físicas. A empresa surgiu em 1986 em São Francisco e teve crescimento acelerado entre 2001 e 2010.

A Marshalls assim como a T.J. Maxx e outras grandes lojas de descontos fazem parte do grupo TJX Companies que em 2012 já tinha mais de 900 lojas nos EUA, 3.000 lojas no mundo, chegando a um faturamento da ordem de US$26 bilhões. Para manter o link com a situação no Brasil, vale a pena citar que a T.J.Maxx, primeira loja do grupo, surgiu na década de 70, época cujo volume comercializado nos EUA era próximo do atual volume brasileiro.

No Brasil, temos ainda pequenas lojas multimarcas independentes e o início da participação de grandes players com atuação online, como o Privalia ou o Westwing. Muitas marcas ainda utilizam as lojas multimarcas quase que exclusivamente como canal primário para acesso ao consumidor de cidades pequenas, onde não valeria a pena manter uma loja própria.


OUTLET

Outro canal secundário muito comum nos EUA, para itens de vestuário são os Outlet Malls. Os outlets malls são shopping centers cujas lojas tem como foco a venda de coleções antigas (até 2 coleções atrás). Nesse caso, diferente dos ambientes multimarcas, o outlet possui lojas exclusivas por marca. Os EUA possuem mais de 200 outlet malls enquanto que no Brasil temos cerca de 5 atualmente.

Segundo os grandes grupos de shopping centers instalados no Brasil há previsão de crescimento de 100% no número de outlets no país nos próximos 5 anos.


PENHOR

Um outro canal secundário onde se verifica grande diferença entre EUA e Brasil é o penhor. Enquanto nos EUA é um canal muito comum, a relevância do penhor como mercado secundário no Brasil é pequena, principalmente, devido às restrições legais. No país, apenas a Caixa Econômica Federal é autorizada a realizar operações de penhor e só se pode penhorar jóias ou itens de alto valor. Nos EUA é possível penhorar qualquer tipo de item e há diversas lojas autorizadas a realizar o procedimento. De toda forma, o penhor é um canal reverso de uso mais comum do consumidor, havendo poucas empresas que utilizem esse canal.



CONCLUSÕES


O mercado secundário no Brasil está em início de desenvolvimento, podendo-se fazer um paralelo ao contexto americano da década de 80.

Devido ao aumento nos volumes de comercialização, a representatividade dos retornos/sobras deve aumentar gerando a necessidade de maior organização e esforço nas operações de logística reversa.

Com o crescimento das operações reversas um desafio mais forte começa a existe e a fomentar o mercado secundário: a necessidade de alternativas para direcionamento dos retornos/sobras de forma a recuperar o máximo de valor possível sem canibalizar os canais primários.

No âmbito desse mercado, verificou-se o desenvolvimento de seus diversos canais, sendo os mais os leilões e outlets os com maiores tendências de crescimento.

As redes de multimarcas, principalmente as online, também demonstram potencial de crescimento no país, mas acabam por depender do desenvolvimento de bons intermediários para se estabelecer com bom posicionamento e não se encontra grandes intermediários no Brasil nesse momento.

Em linhas gerais, pode-se imaginar, o desenvolvimento do mercado secundário brasileiro em linha com o histórico americano o que traz grandes desafios e oportunidades para os profissionais e empresas envolvidos com o tema.

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